“Adolescente tímida se sacrifica pela família”
Lakech, agora com 16 anos, sempre viveu em um lar estável em seu pequeno vilarejo etíope de Moche.Seu pai, um homem piedoso, trabalhava duro para atender as necessidades de sua grande família. Eles não tinham abundância, mas sobreviviam.
Enquanto Lakech crescia, seu pai, Selamu*, e sua mãe, Tutu Haile*, vieram para Cristo. Eles trabalharam duro e se devotaram para criar seus oito filhos de forma temente a Deus. Mas, no ano em que completou 14 anos, a vida de Lakech virou de cabeça para baixo. Ela observava impotente o um longo processo judicial contra seu pai e isto dificultou e muito a sobrevivência de sua família.
Até onde Lakech entendia, o problema de Selamu resultou de tentativas de ajudar sua congregação encontrar um terreno para construir uma igreja no vilarejo Moche. Embora esses cristãos estivessem realizando cultos na região nos últimos quatro anos, sua congregação protestante ainda não tinha permissão para construir uma igreja.
Os Pentes – termo pejorativo para protestantes entre os adeptos da Igreja Ortodoxa Etíope (IOE) – enfrentam muitas discriminações porque são considerados como uma “ameaça” ao estabelecimento da IOE. Embora a IOE não seja mais a igreja do Estado, funcionários do governo sempre mostram favoritismo aos seus líderes.
Cerca de quatro anos atrás, Selamu ofereceu uma seção de seu próprio terreno para a sua igreja. Alegando que o terreno estava muito próximo do complexo de sua igreja, seguidores da IOE se opuseram veementemente a este movimento e ameaçaram atacar. Na tentativa de manter boas relações com seus vizinhos da IOE, os protestantes abandonaram seus planos.
Mas logo, os seguidores da IOE começaram a pressionar Selamu para lhes dar esse terreno em troca de outro mais distante. Selamu recusou sua proposta, dizendo que o terreno oferecido era muito distante para ele ganhar a vida. Então, eles se ofereceram para comprar seu terreno. Mas Selamu recusou novamente, relembrando a eles que a venda de terras na Etiópia é ilegal.
A persistência de Selamu irou os líderes da IOE. Em dezembro de 2008, eles acharam uma oportunidade de lhe dar o troco.
A IOE leiloou alguns eucaliptos em seu complexo em Moche e um membro da igreja chamado Dagne ganhou o lance mais alto. Ele, por sua vez, revendeu as árvores a várias outras pessoas, uma delas Selamu. Após estabelecer o preço, Selamu pagou adiantado por sua porção. Como é costume na parte rural da Etiópia, nenhum recibo foi emitido.
Entretanto, quando Selamu foi ao complexo da IOE derrubar suas árvores, um líder o denunciou à polícia. Quando ele acusou Selamu não apenas de invasão de propriedade, mas também de insultar a fé da IOE e de roubar árvores, a polícia o prendeu.
A batalha judicial começou com uma audiência poucos dias depois, arrastando-se por um ano até novembro de 2009, quando o tribunal considerou o pai de Lakech culpado e o sentenciou a um ano de prisão.
Enquanto isso, Selamu se achou dividindo uma cela com cerca de 50 criminosos e sua família foi abandonada à confusão.
“Passei noites sem dormir, pensando em minha família em casa”, disse Selamu. “Embora, no início, eu estivesse confuso do porquê de estar sendo atacado pela IOE, logo aceitei a situação e percebi que tinha de conviver com isso. Mas minha grande preocupação era com minha família”.
Mas seus adversários não estavam satisfeitos. Selamu apelou e pediu que sua sentença fosse convertida em multa para que ele pudesse cuidar de sua família. Seus acusadores pediram para que sua sentença fosse estendida por mais um ano, uma vez que o crime era grave. Os acusadores ganharam.
Em casa, Tutu Haile não estava lidando bem com a situação. Os vizinhos escarneciam das crianças, alegando que seu pai ficaria preso por mais sete anos. Mas Lakech rapidamente se conformou com a prisão de seu pai e com o preço que todos teriam de pagar. “Comecei a notar como era difícil para minha mãe colocar comida na mesa”, explicou Lakech. “Não podia ver minha mãe batalhando sozinha”.
“Queria terminar a escola, mas era impossível eu prosseguir”, admitiu a adolescente tímida. “Minha mãe precisava de ajuda”.
A despeito de sua idade e de sua timidez nata, Lackech saiu da escola e encontrou emprego de tempo integral como empregada doméstica, a uma certa distância de sua cidade natal. Por longos períodos, Lakech ficou longe de casa trabalhando, enviando todos os seus ganhos para sua mãe em casa.
Seguindo seu exemplo, o segundo irmão mais velho de Lakech, também adolescente, deixou a escola e assumiu a agricultura na pequena propriedade da família.
Então, a igreja local começou a ajudar a sustentar a família e Portas Abertas foi alertada da difícil luta de Tutu, Lakech e Telegata de alimentar sua família. O ministério de Portas Abertas conseguiu chegar até a família, ajudando a prover comida e pagando as taxas escolares para que Lakech pudesse voltar para casa e retomar seus estudos com seu irmão.
Logo depois, para grande alegria da família, Selamu foi perdoado por bom comportamento e liberado em setembro de 2010, após cumprir quase metade da pena.
Quando Portas Abertas visitou a família reunida após Selamu voltar para casa, o pai de Lakech estava radiante.
“Eu estava dizendo comigo, 'quando tiver cumprido minha pena, encontrarei minha família dispersa e necessitada', mas foi diferente. Eles não tiveram falta de nada e tudo foi provido. Eu não conhecia vocês e, ainda assim, Portas Abertas manteve minha família unida”, declarou Selamu.
“Também pensava que ninguém estaria conosco”, compartilhou a mãe de Lakech. “Mas o Senhor envergonhou o inimigo. Também não esperava que meu marido fosse logo liberto. Agora, estamos em alegria. Estamos agradecendo a Deus. Estou feliz de estar aliviada de minhas preocupações e, sobretudo, de ter meu esposo ao meu lado. O Senhor me abençoou com essas duas vitórias: tanto meu esposo quanto minha filha voltaram para casa”.
“Obrigada pelas pessoas que nos ajudaram. Não conhecemos fisicamente as pessoas que nos enviaram sustento. Mas elas estão em nosso coração. Posso apenas dizer obrigada! Que Deus lhes retribua ricamente de acordo com Sua vontade!”, concluiu Tutu.
*Pseudônimos
Observação: Os nomes dos pais são pseudônimos, mas os nomes verdadeiros de seus filhos (Lakech e Telegata) foram usados com a permissão da famíliaa
Nenhum comentário:
Postar um comentário